Precisamos falar sobre “Quiet Quitting”.
O termo ganhou destaque recentemente a partir de um vídeo reflexivo postado por um desenvolvedor de sistemas de 24 anos em uma rede social de compartilhamento de vídeos, o Tik Tok.
Literalmente, o termo significa (demissão silenciosa), mas na prática seria um movimento que reflete sobre o equilíbrio das relações profissionais com a vida pessoal, saúde física e emocional, e tempo útil aplicado ao trabalho.
O movimento social têm sido analisado por muitos especialistas como um sintoma causado pelas transformações do mundo do trabalho a partir da pandemia da covid_19, uma vez que grande parte dos profissionais passaram a lidar com a rotina do trabalho em home office, o que prejudicou o controle sobre a carga horária de trabalho diária, atividades exercidas e consequentemente a separação entre rotinas de trabalho e vida pessoal.
Essa é uma estratégia proposta pela geração Z que tem evidenciado os níveis alarmantes de esgotamento emocional e “burnout” gerados pelo trabalho, visando o equilíbrio sustentável entre vida e profissão, dessa forma, o indivíduo adepto da prática passaria a limitar sua atuação às horas contratadas pelo empregador e às atividades que foram previstas no momento da contratação.
É inegável que o movimento busca conter os abusos cometidos por muitos empregadores, sendo uma reação às formas de controle e submissão adotadas para gerir equipes e empresas. Não significa que os adeptos dessa tendência se transformarão em maus profissionais, ao contrário, significa que estarão em retomada de seu posicionamento como sujeito, que goza de liberdade de escolhas e que o trabalho passa a não ser mais a primeira e única prioridade de vida.
O Quiet Quitting se posiciona contrariamente à cultura do “Always on”, do Grow more With Less”, ao considerar que nem todos tem o objetivo de chegar à Presidência da empresa.
A regulação da prática respeita a individualidade e subjetividade, possibilitando um posicionamento mais ativo quanto aos aspectos que interferem diretamente na saúde.
Outros especialistas observam que os movimentos de terceirização do trabalho e a precarização dos contratos em desvantagem aos trabalhadores, podem ter contribuído para o aumento da insegurança financeira no mercado de trabalho, o que estimularia jovens profissionais a buscarem a conciliação do trabalho com outras fontes de renda e projetos que estejam mais aderentes à sua cultura, valores e propósitos de vida.
Dialogamos aqui no campo das escolhas, e sobre suas possíveis consequências, pois podem ocorrer atritos no ambiente de trabalho ao adotar-se tal posicionamento por haver conflito de interesses no qual, de um lado está a corporação que busca a lucratividade com menor investimento possível, do outro, o trabalhador que passa também a priorizar seus interesses e ganhos, com menor investimento em trabalho, ou limitado ao trabalho que lhe foi contratado, sem adicionais de trabalho não remunerado que favoreceria ao empregador.
É significativo destacarmos que o movimento pode ser visto com impaciência por empresários e até mesmo profissionais de gerações anteriores, podendo ser interpretado como um conjunto de reinvindicações de uma geração que não suporta as pressões do trabalho, ou como a expressão que diz ser: “MI-MI-MI”, mas não se trata disso.
Mais importante ainda é reconhecer que o Burnout atinge a todos os trabalhadores sem distinção. A conta do excesso de trabalho, falta de atividades de lazer, da sobrecarga gerada por demissões que não foram repostas pelas empresas acometeu a todas as gerações de trabalhadores ativos no país.
Somente no ano passado, cerca de 30% dos profissionais ativos no Brasil foram afetados pelo Burnout, colocando nosso país no 2º
lugar do ranking mundial, segundo dados da International Stress Management Association (ISMA-BR).
Por esse motivo, precisamos falar sobre o assunto. As relações de trabalho estão sendo revistas no mundo inteiro e há urgência pela busca de estabelecimento de modelos mais sustentáveis de interação profissional.
Cabe lembrar a importância de diálogo lógico e sincero entre trabalhadores e empregadores para que a satisfação possa ser alcançada por ambos.
William Vinicius de Sousa - Psicólogo CRP: 06/103810