"A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana" Sigmund Freud.


A Psicanálise é um método desenvolvido por Sigmund Freud para tratar de distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente.

Freud nasceu em 1856 na Morávia, atualmente República Checa. Foi responsável pela popularização dos mecanismos inconscientes e propôs a teoria que estrutura a mente humana sendo composta por: inconsciente, pré-consciente e consciente. Estas estruturas ficaram conhecidas mais tarde em seus trabalhos como: ID, EGO e SUPEREGO. Outras traduções trazem essas estruturas como: ISSO, EU e SUPEREU.

Freud publicou em pareceria com Josef Breuer no ano de 1895 os Estudos sobre a Histeria. Este, como outros trabalhos de Freud, representa um clássico da literatura psicanalítica em que os autores descrevem a descoberta de um novo método capaz de liberar as memórias reprimidas no inconsciente do paciente, permitindo a recordação da experiência de forma consciente confrontando-a com a intelectualidade.

Freud defendeu a tese de que as neuroses surgiam a partir da repressão ou recalque dos desejos inconscientes do sujeito, esses mesmos desejos seriam a força geradora dos sintomas neuróticos e múltiplas formas de mal-estar sentidas na civilização.

Freud rompe com o método da Hipnose ao descobrir que o inconsciente estava presente na fala de seus pacientes. A partir deste momento nasce uma nova clínica orientada pela escuta, que a difere da prática da medicina, fundamentada na semiologia do olhar.  

Segundo Freud nosso estado habitual de consciência é apenas uma fração do total de forças atuantes em nossa realidade psíquica. O estado consciente é de fácil acesso, já o inconsciente encontra-se protegido por dimensões de armazenamento que ditam os nossos estados cognitivos e comportamentos. É no inconsciente que são guardados nossos instintos, fantasias e sentimentos reprimidos.

A mente consciente seria produto do mundo intrapsíquico inconsciente do qual não temos livre acesso. O que podemos acessar de nosso mundo inconsciente é controlado pelo inconsciente, ou seja, estamos sujeitos a seu funcionamento.

O Pré-consciente seria responsável por guardar os conteúdos que não foram reprimidos, portanto estão disponíveis de imediato à consciência.

Freud defendia que todas as emoções e sentimentos que estariam além da capacidade de processamento da consciência seriam direcionadas ao inconsciente. Como exemplo deste mecanismo, podemos citar traumas vivenciados na infância, ou desejos que nos pareçam inaceitáveis se confrontados com nossos padrões culturais, valores e crenças adquiridas ao longo da vida.

Até este ponto, estamos falando sobre processos naturais e engenhosos que existem para nos proteger das investidas de certas emoções, porém esse mecanismo, como qualquer coisa em nossa vida, pode apresentar alguns excessos. O conteúdo reprimido, ou recalcado, retorna sobre a forma de sintoma nos surpreendendo com seus signos inteligíveis à nossa consciência. É esse movimento que se atribui ao nascimento das neuroses. Há um descolamento entre a memória arquivada e a consciência que desconhece completamente o conteúdo dessa vivência.

Como mencionado anteriormente, Freud passou a reformular seus estudos passando a utilizar as nomenclaturas: ID, Ego e Superego. Segundo essa nova perspectiva, o ID atuaria como sede dos impulsos primitivos obedecendo aos princípios da busca pelo prazer. O Superego constitui-se como o princípio de realidade, é a internalização da voz do pai e das normas de conduta da sociedade, sedia nossas culpas, medos, julgamentos e nossos mecanismos de avaliação de consequências. Ele nos informa que não podemos ter tudo, ou que não podemos fazer tudo o que tivermos vontade.

Como mediador à essas duas “entidades”, temos o próprio Ego que está sujeito aos princípios reguladores do Superego. O Ego atua como conciliador, ou intermediário entre ID e Ego. Realiza constantemente os processos de avaliação que direcionam nossa conduta, considerando os desejos primitivos do ID, os conceitos reguladores do Superego e as normas culturais do meio, na tentativa de atender as necessidades do próprio eu, sem que ocorram prejuízos às subdivisões envolvidas nessas requisições.

O inconsciente abriga o que Freud chamava de Pulsões de vida e morte. As pulsões de vida são responsáveis pela auto conservação do sujeito: a busca por alimento, abrigo, e o desejo sexual para a continuidade da espécie. Também busca as construções tidas como globalizantes, ou seja, a construção de organizações e da própria civilização.

As pulsões de morte se contrapõem às primeiras em um movimento que busca retornar o sujeito às suas origens instintivas, rompendo com suas construções sociais, construções culturais e demais processos vitais.

Nosso inconsciente é um vasto e complexo submundo de forças conflitantes que garantem a singularidade de cada sujeito. O conflito entre Pulsões de vida e morte, memórias recalcadas e percepções fiéis, ou não, da realidade em que nos inserimos produzem os mais variados estados de angústia, depressões, neuroses e outros conflitos.

O acesso ao inconsciente se dá pela Associação Livre, onde o analista poderá ouvir atentamente o discurso do paciente, com atenção especial a seus atos falhos (quando se troca uma palavra por outra com sonoridade parecida de forma involuntária), pelos Chistes (“brincadeiras” que expressam uma realidade), pelos sonhos, repetições e lapsos na construção de relatos.

O próprio ato de falar sobre suas vivencias e emoções, segundo Freud, era capaz de produzir o efeito da Catarse. Catarse que consiste no ato de liberar e vivenciar novamente as emoções relacionadas aos conteúdos recalcados na memória.

O Autor deixou vasto acervo de obras que influenciam Psicanalistas em todo o mundo, sendo as principais obras: A interpretação dos sonhos; Sobre a psicopatologia da vida cotidiana; Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e O mal-estar na civilização.

Seus escritos estavam à frente de seu tempo e permanecem atuais, apesar do passar dos anos.   

O método Psicanalítico continuou em desenvolvimento com autores contemporâneos como: Jacques Lacan, Melanie KleinDonald Woods Winnicott, Wilfred Bion, entre outros.

Mesmo com novas visões e perspectivas, observa-se que algumas características do método proposto por Freud permanecem intactas, como a importância da transferência como condição primordial à existência de uma análise. 

Jacques Lacan nasceu em Paris no ano de 1901, foi membro da sociedade Francesa de Psicanálise e fundou a escola Freudiana de Paris.

Os seguidores de Freud passaram a desenvolver novas teorias e concepções a partir de seus escritos originais que, pela visão de Lacan, descaracterizavam a essência dos ensinamentos de Freud. A partir desse desconforto, Lacan propõe um retorno aos textos de Freud para abordar temas como: inconsciente, identificação e EU.

O autor trabalhava com aforismos, sendo o principal deles o que diz que o inconsciente é estruturado como linguagem. Também se utilizou de conceitos da Linguística e da Lógica para estruturar sua teoria.

Lacan defendeu a tese de que o sujeito se constitui a partir de três registros psíquicos: Imaginário, Simbólico e Real. O imaginário consiste no processo de unificação da própria imagem a partir da percepção da imagem do outro, processo conhecido como (estádio do espelho).

É graças à alteridade que se pode formar um corpo que nos pertence, ou seja, o bebê que anteriormente se via como pedaços, passa a compreender a unificação do seu próprio corpo a partir da contemplação do corpo unificado do outro.

O simbólico se refere ao campo da linguagem do sujeito que existe a partir da incorporação significante do Outro. É a própria mãe ou figura materna que nos insere na linguagem que nos antecede como seres humanos. É o processo que nos permite a passagem de seres humanos a sujeitos, onde presenciamos a estruturação da subjetividade.

O Real é o registro que resiste à simbolização, uma vez que exteriorizou seu gozo a objetos externos buscando sua recuperação através das pulsões e dos objetos parciais/ faltantes.

Outras contribuições importantes à Psicanálise se referem aos conceitos de Foraclusão do nome do pai e à teoria dos quatro discursos.  Há também ênfase à abordagem do conceito de Édipo na formação do sujeito, definindo a estruturação psíquica do sujeito a partir do complexo de castração descritos em três tempos lógicos.